Novidade
Embrapa lança Guia durante dia de campo sobre agroecologia
Iniciativa pioneira servirá para identificar mudas de espécies arbustivas e arbóreas e apoiar a restauração florestal no Rio Grande do Sul
Foto: Divulgação Embrapa - DP - 67 espécies nativas são indicadas para restauração de ecossistemas no Estado
A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o período entre os anos de 2021 e 2030, a década da restauração de ecossistemas. A fim de auxiliar o Brasil e o Rio Grande do Sul a alcançar as metas pactuadas para restauração florestal neste período, a Embrapa Clima Temperado lança, nesta quinta-feira (7) o Guia para Identificação de Mudas de Espécies Arbustivas e Arbóreas indicadas para Restauração Florestal no Rio Grande do Sul, durante a realização do 18º Dia de Campo sobre Agroecologia e Produção Orgânica. O guia irá ajudar na correta identificação de mudas de 67 espécies nativas indicadas para restauração de ecossistemas florestais e savonóides no Estado.
O Guia será lançado para identificação de espécies arbustivas e arbóreas indicadas para restauração de ecossistemas florestais nos biomas Pampa e Mata Atlântica, ao se inserir na programação do 18º Dia de Campo e mais quatro eventos, a 2ª Feira da Agroecologia, a 1ª Oficina Pedagógica, a Mostra Cultural de Arte e Dança e a Reunião Regional de Organizações de Controle Social, na Estação Experimental Cascata, em Pelotas. "Este é o primeiro para mudas de espécies arbóreas nativas do Estado. Tivemos o cuidado de adaptar a linguagem para o público técnico e agricultores, permitindo que todos acessem o conhecimento de forma igual", disse um dos pesquisadores do Grupo de Manejo e Restauração da Vegetação Nativa, Ernestino Guarino.
De forma ilustrada e didática, a publicação apresenta características-chave para identificação de mudas e sementes das principais espécies arbustivas e arbóreas indicadas para restauração florestal. Nele se encontra uma descrição dos biomas e as regiões onde se realizam a restauração florestal, a forma de tipificação e armazenamento das sementes, a própria descrição da seleção das espécies identificadas, acompanhada por suas características e imagens. "Além de apoiar na identificação das mudas que por ventura serão plantadas (adquiridas em viveiros), o Guia ajudará também na identificação das mudas que germinaram em áreas em processo de restauração assistida, ou não - restauração passiva", explicou.
Os pesquisadores do Grupo de Manejo e Restauração da Vegetação Nativa, também responsáveis pela obra, explicam que existem diversas estratégias de restauração ecológica, as quais podem ser divididas em dois grandes grupos: técnicas de restauração ativa e técnicas de restauração passiva. Essas estratégias diferenciam-se basicamente pela forma de intervenção humana no processo de sucessão da vegetação.
A restauração ativa consiste na aplicação de diferentes técnicas de manejo (por exemplo: semeadura direta, plantio de mudas em área total) para a condução da sucessão vegetal. A restauração passiva baseia-se na capacidade de auto regeneração da vegetação, sendo que a intervenção humana ocorre apenas no diagnóstico e controle das causas de degradação do ambiente (controle de fogo, do gado, da agricultura, entre outros).
Entre as diferentes técnicas de restauração ativa, o método mais difundido para a recuperação de áreas degradadas ainda é o plantio de mudas produzidas em viveiro, porém esse método é caro, trabalhoso e geralmente lento. Uma alternativa possível, porém, ainda pouco explorada no Rio Grande do Sul, é a semeadura direta de sementes. Esse método tem como vantagens, o baixo custo de implantação, principalmente quando o objetivo é recuperar grandes áreas e a baixa necessidade de mão de obra especializada.
Guarino ressalta que nos últimos anos, várias ações de restauração por meio de semeadura direta vêm sendo feitas em diversos ecossistemas florestais brasileiros. No RS, uma das experiências pioneiras é realizada por meio do Projeto SAFLegal. Dados de pesquisa recém publicados demonstram que após um ano da semeadura, aproximadamente 25% das sementes emergem, garantindo uma densidade de duas mil mudas por hectare.
Realizado de forma consorciada com grãos, em sistemas agroflorestais, o custo do processo de restauração é 75% inferior ao método tradicional (plantio de mudas em área total) com mesma densidade de mudas por hectare. "É fundamental gerar tecnologias que reduzam custos e maximizem o uso da mão de obra no processo de restauração, produtiva ou não. Juntamente com a constituição de redes coletoras de sementes e viveiros, integrando diferentes estratégias em nível da paisagem é possível obter maior efetividade com menor custo das atividades de restauração, tornando viável e interessante para o agricultor todo esse processo", falou.
O produtor não recebe recursos financeiros diretamente por optar pela restauração, mas há ganhos na melhoria da água devido a restauração das nascentes, por exemplo. Além disso, é uma obrigação legal de todos os agricultores conservarem as Áreas de Reserva Legal (ARL) e Proteção Permanente (APP), mantendo o mínimo exigido na legislação.
"Para se ter qualidade de mudas e sementes é importante levar em conta que essa garantia não está apenas nas melhores técnicas de coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes e produção de mudas de essências florestais, mas também pela correta identificação dessas espécies", lembrou Guarino. Ele relatou que os pesquisadores observaram que os diferentes atores envolvidos na cadeia da restauração florestal no Rio Grande do Sul, apresentam dificuldades para identificar sementes e mudas, incorrendo muitas vezes em erros que podem comprometer ou inviabilizar o processo de restauração florestal.
"Algumas espécies são muito parecidas, porém com demandas de solo e clima diferentes", destacou. Conforme o pesquisador, quando há erros de identificação de mudas de espécies, esses podem causar grandes problemas na restauração, com uso de espécies não adaptadas a solo e clima local, além de plantas exóticas invasoras, causando prejuízos econômicos e ambientais.
O Guia compõe um grupo de tecnologias voltadas à inserção da árvore na propriedade rural e a restauração florestal por meio da semeadura direta, apoiando técnicos e agricultores na identificação e definição das espécies utilizadas. Tais tecnologias foram geradas com apoio financeiro da Corsan, do CNPq e do Sistema Embrapa de Gestão de Projetos (SEG), via o projeto SAFLegal.
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